quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Qualidades de Ayrá


  • Ayrá Intile - É o filho rebelde de Ọbàtálá. Ayrá Intilé foi um filho muito difícil, causando dissabores a Ọbàtálá. Um dia, Ọbàtálá juntou-se a Odudua e ambos decidiram pregar uma reprimenda em Intilé. Estava Intilé na casa de uma de suas amantes, quando os dois velhos passaram à porta e levaram seu cavalo branco. Ayrá Intilé percebeu o roubo e sabedor que dois velhos o haviam levado seu cavalo predileto, saiu no encalço. Na perseguição encontrou Ọbàtálá e tentou enfrentá-lo. O velho não se fez de rogado, gritou com Intilé, exigindo que se prostrasse diante dele e pedisse sua benção. Pela primeira vez Ayrá Intilé havia se submetido a alguém. Ayrá tinha sempre ao pescoço colares de contas vermelhas. Foi então que Ọbàtálá desfez os colares de Ayrá Intilé e alternou as contas encarnadas com as contas brancas de seus próprios colares. Ọbàtálá entregou a Intilé seu novo colar, vermelho e branco. Daquele dia em diante, toda terra saberia que ele era seu filho. E para terminar o mito, Ọbàtálá fez com que Ayrá Intilé o levasse de volta a seu palácio pelo rio, carregando-o em suas costas. Nesta qualidade, Ayrá Intilé dá a seu devoto um ar altivo e de sabedoria, prepotente, equilibrado, intelectual, severo, moralista, decidido.
  • Ayrá Ibonã - É considerado o pai do fogo, tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de Ayrá, rito em que Ibonã dança acompanhado de Iansã, pisando as brasas incandescentes. Conta o mito que Ibonã foi criado por Dadá, que o mimava em tudo o que podia. Não havia um só desejo de Ibonã que Dadá não realizasse. Um dia Dadá surpreendeu Ibonã brincando com as brasas do fogão, que não lhe causavam nenhum dano. Desde então, em todas as festas do povoado, lá estava Ayrá Ibonã, sempre acompanhado de Iansã, dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras. Nessa qualidade, os seguidores de Ayrá têm espírito jovem, perigoso, violento, intolerante, mas são brincalhões, alegres, gostam de dançar e cantar.
  • Ayrá Osi - É o eterno companheiro de Oşoguian. Um dia, passando Oşoguian pelas terras onde vivia Ayrá Osi, despertou no jovem grande entusiasmo por seu porte de guerreiro e vencedor de batalhas. Sem que Oşoguian se desse conta, Ayrá trocou suas vestes vermelhas pelas brancas dos guerreiros de Oşoguian, misturando-se aos soldados do rei de Ejibô. No caminho encontraram inimigos ao que Osi, medroso que era, escondeu-se atrás de uma grande pedra. Oşoguian observava a disputa do alto de um monte, esperando o momento certo de entrar nela, mas, para sua surpresa, percebeu que um de seus soldados estava de cócoras, escondido atrás da pedra. Sorrateiramente Oşoguian interpelou seu soldado e para sua surpresa deparou-se com Ayrá que chorava de medo, implorando seu perdão, por haver enganado o grande guerreiro branco. Oşoguian, por sua bondade e sabedoria, compadeceu-se de Ayrá Osi. No entanto, como punição pela mentira de Ayrá, decidiu que naquele mesmo dia o jovem voltaria à sua terra natal vestindo-se de branco e nunca mais usaria o escarlate, devendo dedicar-se a arte da guerra para poder seguir com ele em suas eternas batalhas. Os filhos de Ayrá Osi são considerados jovens guerreiros, lutam pelo que querem, mas as vezes deixam-se enganar pela impetuosidade. São calmos, não tidos a trabalhos intelectuais, são amorosos, alegres e sentimentais. São muitas as invocações ou qualidades de Şàngó, que, como vimos, se juntam às outras tantas de Ayrá. Em diferentes países e regiões da diáspora africana em que a religião dos orixás sobreviveu e prosperou, há diferentes variantes das qualidades dos orixás, pois cada grupo, geograficamente isolado, ao longo do tempo, acabou por selecionar esta ou aquela passagem mítica do orixá. Muitas foram esquecidas, outras ganharam novos significados. Cada qualidade é representada por diferentes cores e outros atributos, de modo que, pelas vestes, contas e ferramentas, ritmos e danças, é possível identificar a qualidade que está sendo festejada, principalmente no barracão de festas dos terreiros. Não só por esses aspectos, mas também pelas oferendas votivas e pelos animais que são sacrificados em favor da divindade.

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